Associação Brasileira de Etnomusicologia comunica com pesar o falecimento de Carlos Vicente de Lima Palombini. Ele começou a estudar piano aos cinco anos de idade em 1962. Aos 14, em 1971, fez o curso de interpretação teatral do Teatro de Arena de Porto Alegre. Cinco anos depois, em 1976, ingressou no Bacharelado em Direção Teatral da UFRGS, que concluiu em 1981. Nesse período, atuou como ator, compositor, diretor musical, diretor teatral e bailarino. Em 1983, foi aluno de composição de Hans-Joachim Koellreutter no Conservatório de Tatuí. De 1985 a 1986 apresentou-se regularmente como compositor-pianista/tecladista em salas de concerto de Porto Alegre e no Bar Ocidente, onde, em 1985, dirigiu um espetáculo de teatro de cabaret de sua autoria: A Marquesinha. Em 1987, com bolsas do Goethe-Institut e do British Council, passou dois meses em Schwaebisch-Hall e sete em Londres, onde fez curso de Analog Recording and Production Techniques. Retornou a Londres em agosto do ano seguinte como bolsista de especialização do CNPq para obter, em 1990, o diploma de pós-graduação em Music Information Technology da City University de Londres. De 1989 a 1992, como bolsista da Capes, preparou tese de doutorado em Música na Universidade de Durham, Reino Unido. Em 1993, recebeu diploma de Ph.D. de Sir Peter Ustinov; o prêmio Sir Jack Westrup de Oxford University Press; e publicou artigos no Computer Music Journal (MIT Press) e em Music and Letters (Oxford University Press). De volta ao Brasil, foi bolsista recém-doutor no PPG em Comunicação e Semiótica da PUC-SP (1994-1996) e no CDMC-Brasil/Unicamp (1996); foi Resident Fellow da Fundação Rockefeller no departamento de Antropologia da Unicamp; e foi Professor Visitante no departamento de Música da UFPE (1998-2000). Em 2002, ingressou por concurso na Escola de Música da UFMG como Professor de Musicologia, cargo do qual se aposentou em 2022. Durante esse período, desenvolveu colaborações com o CNRS, o Institut mémoires de lédition contemporaine (IMEC), a University of East London, o Posgrado en Música da Unam, o PPGM-Unirio, o PPGMus-USP, o PPCulT-UFF e o PPGAS-UFRJ. Foi bolsista PQ-CNPq desde 2007.

Igor Reyner, que foi orientando de Palombini diz o seguinte ” Ele foi meu professor de História da Música, meu orientador de mestrado, companheiro de inúmeros projetos de pesquisa e um dos meus melhores amigos. Era uma pessoa com quem conversava sobre música e culinária, política e estética, escuta e as coisas mais banais da vida. Foi, sem dúvidas, uma das pessoas mais sagazes, sensíveis e inteligentes que conheci. Um transgressor (na melhor acepção da palavra) do status quo acadêmico, foi responsável por provocar inúmeras transformações no universo das escolas de música universitárias no Brasil. Ele foi pioneiro ao debater sistematicamente a relação entre música e questões de gênero, e também o primeiro pesquisador em um departamento de música no Brasil a desenvolver pesquisa sobre Funk (Carioca). Num momento em que o gênero era visto por grande parte das escolas de música e de seus acadêmicos como uma manifestação de valor apenas sociológico, Palombini demonstrava seu inegável valor estético e potencial criativo, desmontando argumentos preconceituosos através de rigorosa musicologia e teoria da música. Ele sempre esteve muito atento às mais novas tendências teóricas, sempre conectado com a música do presente e com os mais diversos gêneros. Falava com igual desenvoltura das escolas pianísticas do início do século XX e do proibidões que marcaram as primeiras décadas de 2000. Cultivou como poucos uma escuta atenta e aberta, tanto para a música quanto para o discurso do outro. Palombini era ainda uma das maiores referências mundiais na obra de Pierre Schaeffer, o músico francês que criou a “música concreta” (apelidado por alguns como Pai dos DJs). Ele era dono de uma mente fervilhante, sempre disposta a provocar e a estimular as pessoas a saírem de suas zonas de conforto intelectual e estético, e foi, talvez, a pessoa com o mais refinado senso de ironia que conheci. Além de tudo, era um escritor brilhante e profundamente elegante. Foi um prazer e uma honra imensos compartilhar tantos momentos de genuína troca com ele. Espero que seu legado intelectual e que seu senso de humor perspicaz continuem a reverberar por muito tempo ainda”.

Nossos sentimentos aos familiares, amigos, estudantes e orientandos, bem como, a toda comunidade abetiana que perde um dos grandes intelectuais da Etnomusicologia/Musicologia brasileira e dos estudos em música.

Pedro Fernando Acosta da Rosa

Presidente da ABET