Nota de pesar – Régis Duprat (1930-2021)

 

Com grande reconhecimento e gratidão por sua profícua, crítica e generosa trajetória, a Associação Brasileira de Etnomusicologia vem expressar seu pesar pela morte do músico, professor e musicólogo Régis Duprat, ocorrida dia 19 de dezembro de 2021. Régis Duprat nasceu no Rio de Janeiro em 1930. Graduou-se em História pela USP, onde especializou-se em Estética com Gilda de Melo e Souza. Cursou, posteriormente, o Instituto de Musicologia e o Conservatório de Paris, na França, e, tendo retornado ao Brasil, realizou seu doutorado em musicologia na UnB, orientado por Sérgio Buarque de Holanda. Atuou como violista em vários conjuntos de câmara e sinfônicos e foi professor de Viola, História da Música e Estética na UnB, UNESP, UFF e USP, além de ter colaborado com projetos junto a diferentes instâncias de patrimonialização e educação no Brasil. É signatário do Manifesto de Música Nova (1963), publicado na Revista Reinvenção, no qual afirmava com seus colegas – entre os quais seu irmão Rogério Duprat, Damiano Cozzella, Gilberto Mendes, Willy Correia e Júlio Medaglia – seu “compromisso total com o mundo contemporâneo”. O grande mestre legou à memória documental sobre o Brasil relevantes estudos sobre a história da música brasileira, em especial sobre a música no período em que o Brasil foi colônia de Portugal. Dialogou com os paradigmas modernista, nacionalista e estruturalista, para lançar-se em um olhar próprio, constituinte de uma nova postura de pensamento musicológico, fundamentada no paradigma crítico e na hermenêutica. Foi sócio honorário da Sociedade Brasileira de Musicologia e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Brasileira de Música. Coordenou a organização do Acervo Curt Lange no Museu da Inconfidência (Ouro Preto, MG) e organizou o catálogo temático das obras de André da Silva Gomes, tendo sob sua custódia o arquivo Veríssimo Glória. Em seu memorial para professor titular no Departamento de Música da USP, Régis Duprat retoma sua riquíssima trajetória e provê seus leitores com reflexões muito atuais, sobre o conhecimento musical e suas implicações acadêmicas:

A pesquisa e a reflexão são algo inerente à atividade universitária. Quem não sabe, porque não aprendeu, e não quer fazer pesquisa, não sabe e não quer ensinar. Porque a função precípua do magistério superior é a pesquisa e não o ensino; o ensino não é nada mais do que a integração de professor e aluno na atitude e comportamento de pesquisa. E não é só a pesquisa mas o hábito da reflexão sobre a pesquisa e sobre a dimensão pragmática de todas as nossas atividades, e sua integração nos problemas do Homem, da sua História, do seu meio, do seu tempo e do seu sentido. Urge erradicar o preconceito difuso e daninho, de que o artista não se prestaria ao raciocínio sistemático e ao trabalho cientificamente conduzido, ultrapassado resíduo da estética romântica. De que a função do artista seria limitada a intuir e a expressar por signos misteriosamente específicos (DUPRAT, 1997, p. 30).

Régis Duprat e suas produções seguirão nos inspirando e impulsionando a performances, pesquisas e ao ensino musicais. Agradecemos seus ensinamentos e enviamos nosso abraço e sinceras condolências a seus parentes e amigos.

 

DUPRAT, Régis. Memorial, 1997. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/memorias/sites/default/files/memoriais/M316%20RE%CC%81GIS%20DUPRAT%2C%201997.pdf. Acesso em: 20 dez. 2021.

DUPRAT, Régis. Série Trajetórias, 2000. https://abmusica.org.br/wp-content/uploads/2021/04/2000_RDuprat.pdf. Acesso em: 20 dez, 2021.

 

Régis Duprat. Foto: UEM, 20 fev. 2018.

 

Associação Brasileira de Etnomusicologia – ABET, 20 de dezembro de 2021.