A Associação Brasileira de Etnomusicologia deseja a todas as pessoas associadas e não associadas que tenham um ano de muita saúde, paz e felicidade mesmo diante dos ataques negacionistas programados para atingir às instituições democráticas em 2022. Essas forças têm sido profundamente negligentes, sendo que seus atos, ou a ausência deles, culminaram em mais de 600 mil mortes por COVID-19, mais de 12 milhões de desempregados, cortes de recursos destinados ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, alterações de regras institucionais democráticas nas universidades e conselhos, ataques constantes às terras indígenas e quilombolas, destruições ambientais cada vez maiores e diminuição dos recursos públicos voltados à população mais pobre e de maioria negra do país.
Diante disso, do terror que estamos vivendo “cotidiariamente”, em que muitas dessas ações têm atravessado negativamente inúmeras gerações nos últimos 200 anos de “independência”, os quais completaremos neste ano, percebemos que o racismo, o sexismo, a homofobia, o machismo, o capacitismo e diversas outras formas de opressão têm atingido fortemente os povos originários, a população pobre, favelada, negra, preta e parda do nosso país. Não temos muito a comemorar neste ano do Bicentenário da Independência em razão dos ataques constantes à democracia, as humilhações, o genocídio de nossa juventude, a violência policial denunciada nos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos, o encarceramento em massa, a violência contra as mulheres, os altos índices de vulnerabilidade social, a instabilidade política e econômica, entre outras, tendo como pilares sistemas e estruturas racistas, antivida, coloniais e de morte, o que tem dificultado, mesmo com todos os nossos esforços, qualquer projeto emancipatório.
Apesar disso e de todo o contexto desfavorável que vivemos, incluindo a conjuntura política de morte do atual governo, a diretoria da ABET não medirá esforços para defender os interesses de nossa população utilizando todo o nosso capital cultural, político e acadêmico acumulado nas lutas históricas, na produção de pesquisas que enriquecem a nossa ciência, nas redes comunitárias, nacionais e internacionais, construídas há mais de duas décadas por nossa entidade, contra os modelos antidemocráticos e contrários à ciência brasileira.
Atuaremos contra este estado de terror em que vivemos, produzindo vida, utilizando nossa criatividade e buscando uma gestão de maior aproximação com as entidades acadêmicas internacionais, comunidades quilombolas e indígenas, coletivos negros e LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais, + outros grupos que fogem à heterocisnormatividade), SEM (Society for Ethnomusicology ), ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical), ANPPOM (Associação Nacional de Pesquisa e Pós- Graduação em Música), SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), ICTM (International Council for Traditional Music), ABA (Associação Brasileira de Antropologia), Pontos de Cultura, NEAB (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos), ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) e movimentos sociais negros, tais como MNU (Movimento Negro Unificado), UNEGRO (União de Negros e Negras pela Igualdade), entre outras entidades convergentes, representativas de nossa diversidade e pluralidade, que compõem o nosso quadro societal. Para tal, produziremos lives, cursos de formação, palestras, seminários, manifestos, visitas às universidades brasileiras, o XI ENABET e o I Encontro de Pessoas Indígenas e Negras da ABET (novembro de 2022, no formato presencial ou remoto).
Desta forma, com essas e outras ações, buscaremos apresentar nosso projeto político, acadêmico e comunitário e ressaltar o papel da ABET na transformação social e na luta pela valorização da ciência e dos direitos humanos. Nosso foco será apostar em nossa juventude, que está presente nos mais variados cursos e disciplinas acadêmicas, tanto na graduação quanto na pós-graduação; com isso, também objetivamos maior aproximação e popularização da Etnomusicologia com os movimentos sociais, comunitários e a educação básica, na intenção de auxiliar na qualificação dos profissionais da Educação, mostrando o quanto a pesquisa etnomusicológica pode ser uma aliada importante no desenvolvimento educacional.
Gostaríamos de destacar, por fim, o legado deixado pela gestão 2019-2021 composta pela presidenta Marília Stein, Vice-presidente: Luciana Prass,1° Tesoureiro: Estêvão Amaro dos Reis, 2º Tesoureiro: Lúcia Pompeu de Freitas Campos, 1ª Secretária: Luana Zambiazzi dos Santos, 2° Secretária: Hellem Pimentel Santos Figueiredo, Editora: Suzel Ana Reily, Vice-editora: Guilhermina M. Lopes de Carvalho Santos e ao conselho fiscal (Titular: Reginaldo Gil Braga, Titular: Liliam Cristina Barros Cohen, Titular: Eurides Souza dos Santos, Suplente: Rafael Henrique Soares Velloso, Suplente: Renan Moretti Bertho, Suplente: Mateus Mapa Berger Kuschick ) pela condução, profissionalismo e seriedade do processo de transição. Ampliamos nossos agradecimentos a todas as pessoas que vêm colaborando na consolidação da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Afirmamos que a atual gestão, de maioria negra, representa um momento histórico nas organizações acadêmicas brasileiras da sociedade civil não negras, sendo resultado da dedicação, do trabalho e do profissionalismo empreendido pelas pessoas negras como ex- presidenta Eurides de Souza Santos e não negras da ABET. Nos sentimos herdeiros dessa tradição acadêmica de luta e parte do movimento negro educador. Honraremos os compromissos assumidos com ética, transparência, respeito e dedicação. Esperamos, nos próximos dois anos, contar com todas as pessoas que fazem parte da ABET, que certamente contribuirão para o sucesso da nossa gestão.
Muita luta, resistência e saúde em 2022, são os nossos votos.
Pedro Fernando Acosta da Rosa